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"E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal. E Abraão levantou-se aquela mesma manhã, de madrugada, e foi para aquele lugar onde estivera diante da face do Senhor; E olhou para Sodoma e para toda a terra da campina; e viu, que a fumaça da terra subia, como a de uma fornalha." Gênesis 19:26-28

 

 [CONTO] O Sabor da Mente

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AutorMensagem
Trevor

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MensagemAssunto: [CONTO] O Sabor da Mente   [CONTO] O Sabor da Mente EmptyDom 06 Fev 2011, 10:01 pm

Mais um conto do Lua Sombria. Dessa vez não é de vampiros, tem problema não né? rsrs!



Abri meus olhos. A visão turva se tornava nítida aos poucos revelando a realidade que me fez querer não poder enxergar novamente.Mas ainda que eu cegasse meus olhos, os outros sentidos não me deixaria fugir daquele horror. O olfato insistia em me castigar com o cheiro de carne putrefata. Meu ouvido não escutava nada além de moscas voando. Meu tato tentava fazer minha mente entender que eu estava no meio de diversos corpos sem vida.

Esfreguei as mãos ensanguentadas nos olhos em uma tentativa de desembaçar totalmente a visão. Me libertei empurrando os pesados corpos sem vida, e então pude dar uma olhada em mim mesmo. Minha roupa não passava de trapos sujos e rasgados, o que deixava a mostra os ferimentos no meu corpo: uma série de cortes e orifícios certamente causados por tiros. As feridas possuíam um tom roxo escuro nas bordas. Espremi por curiosidade, e saiu uma espécie de pus negro bastante viscoso e fétido. O fato curioso era que não doía.

Depois de observar meu estado, comecei a olhar para o ambiente. A pilha de corpos em que eu estava se destacava por um facho de luz vindo do alto, causando uma penumbra ao redor que me permitia enxergar o chão de terra e as paredes de tijolinhos cinza escuro, que por sinal estavam com bastante poeira e teias de aranha. Subi naqueles corpos amontoados e quando olhei para cima, de onde vinha o foco de luz, percebi que estava em uma espécie de poço bem fundo. A enorme lua cheia que eu estava vendo do lado de fora me dava a sensação de estar em um túnel, com a luz logo no final. Eu precisava escalar para ganhar minha liberdade.

As frestas entre os tijolos eram rasas, o que dificultava a escalada. Depois de conseguir subir muitos metros, meus pés se desequilibraram deixando todo o peso do meu corpo em meus dedos. Segurei da forma que pude mas minhas unhas foram arrancadas pela quina dos tijolos, o que me levou à uma longa queda de volta aos corpos podres. Em situações normais, eu não conseguiria retomar minha escalada, pois meus dedos estariam na carne viva sem as unhas. O problema é que minha carne não parecia estar viva. Minha pele estava assombrosamente assumindo tonalidades de roxo, quase preto. Não me preocupei tanto porque não doía, fato que me permitia uma nova tentativa de subir.

Quando consegui finalmente chegar do lado de fora do poço, me vi em um cemitério. Uma densa neblina cobria o chão e a única fonte de luz era a lua cheia. Tentei me lembrar o que tinha acontecido, como eu havia parado ali. Mas não conseguia lembrar nem meu nome. Tentei falar alguma coisa mas minha boca não emitia palavras, apenas alguns murmúrios estranhos e nada inteligíveis. Comecei a instintivamente andar sem rumo, guiado pela fome que eu estava sentindo. Meus passos estavam desordenados, era como se eu tivesse bebido um litro de vodka, minha mente não coordenava os movimentos. Escutei um som de pá cavando a terra, o que estranhamente fez minha fome crescer ainda mais. Não sabia por que, mas o que iria satisfazer minha fome estava na fonte daquele som.

Andei mais um pouco e vi um coveiro cavando a terra que certamente se tornaria o jazigo de alguém. Ele parecia estar tão concentrado em sua tarefa que não percebeu a minha aproximação. Inspirei o ar e senti um cheiro que me agradou, e esse cheiro vinha dele. Sem pensar em certo ou errado, me atirei à cova e cravei meus dentes no ombro dele, arrancando um pedaço de carne e gritos de dor. Ele pegou a pá que estava segurando no outro braço e me acertou com a ponta bem no olho, afundando em meu crânio. O sangue negro escorreu do meu olho até a minha boca. O gosto era bom, mas não era nem de perto tão apetitoso quanto aquela carne que eu acabara de mastigar.

Desenterrei a pá do meu rosto e avancei na garganta dele, arrancando mais um pedaço de carne e sangue fresco. Dessa vez ele não pode gritar. Se limitou a colocar as duas mãos na ruptura em seu pescoço enquanto seus olhos arregalavam. Eu deveria sentir pena ao ver que ele tentava desesperadamente respirar ao passo que sua pele adquiria uma tonalidade cada vez mais parecida com a minha. Mas nem dor eu conseguia sentir, muito menos pena alheia. Apenas um sentimento era certo: fome!

Quando ele caiu sem vida na cova em que ele mesmo havia cavado, peguei a pá e parti sua cabeça em duas partes, como se faz com um coco. Vi aquele cérebro envolvido por uma membrana viscosa e suculenta. Me ajoelhei e segurei com as duas mãos o meu prato principal. Mordi aquele cérebro macio e quente até não sobrar nada. Minha fome estava se aliviando, mas eu queria mais! Consegui facilmente rasgar a barriga dele com minhas próprias mãos, e lá estava a segunda parte do meu banquete: coração, fígado, intestino e uma porção de orgãos deliciosos! Fiquei tão extasiado ao descobrir o quanto aquilo era bom que acabei comendo demais. Dei um arroto seguido por alguns pedaços de fígado. Eu finalmente estava satisfeito.
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