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"E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal. E Abraão levantou-se aquela mesma manhã, de madrugada, e foi para aquele lugar onde estivera diante da face do Senhor; E olhou para Sodoma e para toda a terra da campina; e viu, que a fumaça da terra subia, como a de uma fornalha." Gênesis 19:26-28

 

 [CONTO] Insônia

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Trevor

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MensagemAssunto: [CONTO] Insônia   [CONTO] Insônia EmptyDom 25 Set 2011, 7:54 pm

Mais um conto do Lua Sombria...

[CONTO] Insônia Insonia-300x225

Você acha que tem boas razões para não conseguir dormir à noite ?



Nunca gostei de mudanças, principalmente essas que entram em sua vida sem bater à porta e arrasam com tudo. Agora só me resta a lucidez, mas estou certo que ela não existirá após o cair desta noite. Esta é a última chance de contar o que me aconteceu, então leia com atenção.

Meu tormento começou à mais ou menos um mês atrás. Estava animado quando cheguei em casa após uma festa, um pouco tonto, mas não havia exagerado na bebida. Retirei o tênis e caí na cama. O sono não demorou a vir, e quando cheguei naquele transe entre o dormindo e o acordado, comecei a ouvir muitas vozes no meu quarto. Era normal isso acontecer às vezes, então não me preocupei muito. Pelo menos não até uma dessas vozes gritar em meu ouvido jogando um hálito fétido e quente, como o de um cachorro de rua. O susto me fez acordar, e eu tive a impressão de ver um vulto correndo muito rápido da minha cama e saindo pela janela.

Isso se repetiu por diversas vezes. Sempre que eu pegava no sono, acordava com o maldito vulto gritando e fugindo pela janela sem me revelar sua forma. Já era impossível dormir à noite, o sono me abordava sempre durante o dia no trabalho me fazendo cochilar por alguns minutos, mas eu sempre acordava assustado com os pesadelos do vulto gritante. Meu rendimento caiu drasticamente e meu chefe perguntou o que estava acontecendo comigo. Óbvio que não pude contar a verdade, ele iria pensar que estou louco. Bom, talvez eu realmente esteja.

Cansado dessa situação, procurei me convencer que isso era apenas minha imaginação pregando peças. Entrei no quarto, abri a janela e dei uma boa olhada nas árvores secas do quintal. Nada de anormal. Depois conferi o guarda-roupas e de baixo da cama. — Não há nada a temer — pensei comigo. Mas lá no fundo eu sabia que estava enganado. Depois de várias horas tentando, consegui dormir. Pena que o adorável sono não durou muito, pois acordei sentindo uma mão gelada e viscosa puxar o meu pé com tamanha força que me arrastou bruscamente para fora da cama. Minha nuca se chocou contra o chão e eu perdi a consciência. Essa pelo menos foi uma forma de dormir até o início do dia.

Acordei com a cabeça latejando numa dor insuportável, como se agulhas estivessem perfurando meu crânio. Andei cambaleando até o banheiro e me olhei no espelho. Era notável que meu aspecto piorava noite após noite. As fortes olheiras marcavam meus olhos fundos e avermelhados. A palidez acentuada em meu rosto salientava as veias que pareciam querer saltar para fora. Caí em um pranto convulsivo ao pensar que esse tormento nunca iria acabar.

Não demorou muito e a noite havia chegado novamente, como eu a temia! Mesmo morrendo de sono tive medo de tentar dormir, pois agora eu sabia que o monstro era real e estava me esperando. Por fim, decidi enfrentar meu inevitável destino e subi até o quarto. Deitei em minha cama e fiquei esperando pelo assédio da criatura por algumas horas, até que eu a vi claramente espreitando pela janela. Pela primeira vez pude ver como ela era. Tinha uma pele cinzenta, úmida e enrugada. Haviam também algumas verrugas que expeliam uma espécie de pus. As orelhas eram pontudas e no lugar dos olhos haviam profundas órbitas negras. A coisa me olhava, o medo crescia e meu estômago congelava de pavor. Eu estava tremendo e suando frio.

Fiquei sem respiração quando vi a coisa bizarra entrando pela janela e rastejando lentamente em minha direção. Suas mãos espalmavam contra o chão causando um estralo repugnante. O temor paralisante me manteve travado na cama enquanto aquilo se aproximava deixando um rastro de umidade podre no chão. Quando chegou até a cama, começou a subir e tocou meus pés com sua pele viscosa e gelada. A sensação ficou pior quando a criatura debruçou-se sobre mim e agarrou meu pescoço com os dedos finos e compridos. Senti a garganta apertada e meu grito foi sufocado pelas garras. Senti que estava enfraquecendo, e quando abri os olhos, vi a energia saindo pela minha boca e entrando nas órbitas da criatura. Apesar do rosto desprovido de emoções, senti que o monstro ria por dentro e deleitava-se com meu pavor. Uma vertigem me atacou e tudo começou a girar rapidamente, então logo veio o desmaio para me trazer mais pesadelos.

Ao amanhecer, não consegui olhar para claridade que entrava pela janela e precisei fechar todas as cortinas para que a escuridão se fizesse novamente no quarto. Meus olhos começaram a coçar intensamente, e depois de cutuca-los, notei que eles estavam murchos como uma ameixa podre. Continuei coçando até que um deles se desprendeu do meu rosto. Não senti dor, mas gritei de desespero sabendo que nunca mais seria o mesmo novamente. Fiquei tão envolvido com meu pavor e minhas lágrimas que só com a queda do meu outro olho, percebi que não precisava mais deles para enxergar. Me encarei no espelho e não me reconheci com a pele enrugada, sem cabelo e sem olhos. O que estou me tornando!? Não posso mais sair na rua desse jeito! Não tenho a quem pedir ajuda... Sei que em breve a criatura vai voltar para me buscar e eu vou me tornar um deles. Quando ler isso, provavelmente estarei sondando o quarto de alguma outra pessoa solitária. Torça para que essa pessoa não seja você.

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